30.5.20

Relato de Experiência para Colartes

O texto abaixo foi um relato de experiência apresentado no COLARTES/Modos de Fazer/Exibir do Centro de Artes da Ufes, em 2013.

Acesse também em:
http://www.periodicos.ufes.br/colartes/article/view/7697/5490


Isso não é flamenco
This is not flamenco
Ivna Vieira Messina[1]

Resumo: Esse Relato de Experiência pretende registrar e refletir sobre os procedimentos e processos criativos relacionados ao desenvolvimento do projeto Isso não é flamenco, no qual eu, artista pesquisadora de dança flamenca, convidei artistas das artes cênicas e das artes visuais para dialogarem com essa linguagem a partir de encontros poéticos. Desses encontros foram construídos um blog que era alimentado com o material que surgia a partir dos diálogos com os artistas, e trabalhos poéticos que foram expostas em processo nos três eventos que denominei de “saraus”.
Palavras-chave: flamenco, artes, poética, processos criativos, dança.

Abstract: This Experience Report pretends relate and reflects about the proceedments and creative process realized belong the first edition of the Isso não é flamenco[2] project, where me, an flamenco’s research artist, had invited artists from the cenical arts and visual arts for dialogue with this language throw poetics meetings. A blog contenting the stuff that born from this dialogs and three events called “saraus” where the poetical work have been showed from this meetings
Keywords: flamenco, arts, poetic, creative process, dance.


Isso não é flamenco. Mas o que é isso então? Primeiro quero falar sobre o porquê desse nome para o projeto desenvolvido por mim em parceria com alguns artistas, em Vitória, ES, no segundo semestre de 2012. O flamenco é uma linguagem que, baseada no tripé baile-música-poesia, vem da tradição e sua disseminação parte, na maioria das vezes, da cópia e da tentativa de reprodução. É comum em certos nichos a valorização da manutenção da “pureza” dessa manifestação, algo que acredito ser improvável já que o próprio flamenco surgiu do encontro de culturas mouras, judaicas, ciganas e espanholas e segue bebendo na fonte de diversas culturas, inclusive latino americanas para a criação de seu repertório corporal, musical e poético. Para algumas pessoas a expressão “eso es flamenco” se traduz como um elogio, como um selo de legitimação de que o que se está fazendo se trata do tal “flamenco puro”.
A partir desse pensamento já lhes informo que não quero tratar de tradição nem espero legitimação. Talvez como uma desculpa antecipada aos ditos “puristas” do flamenco que podem querer vir reclamar da minha tentativa de buscar um outro caminho dentro da técnica.
O estudo do flamenco faz parte da minha formação como bailarina há 12 anos. Como artista a minha formação passa também por 14 anos dedicados ao ballet clássico, por uma graduação em Artes plásticas na Ufes, uma graduação sequencial em Fotografia na Uvv, intérprete-criadora nas investigações de dança-teatro do Grupo Z de Teatro há 6 anos e bailarina e coreógrafa da Alma Andaluza cia de Danza que se dedica exclusivamente ao flamenco há 9 anos.
Acredito que a diversidade da minha formação me levou a questionamentos sobre a minha prática na dança flamenca, que foram reforçados após uma temporada de estudos na Espanha durante os três primeiros meses de 2012.
Porque a escolha por uma linguagem estrangeira à minha nacionalidade, sem nenhum vínculo genético direto? Como posso aproximar minha prática como artista criadora da prática do flamenco, construindo uma pesquisa à partir da contaminação e da disseminação? Como trazer uma prática contextualizada num território estrangeiro para a minha realidade, o meu espaço de vivência?
Antes de dar continuidade preciso dizer que essa possibilidade de pensar o flamenco à partir da contaminação de outras culturas e linguagens e/ou de um fazer artístico autoral não é novidade. Há anos o flamenco é disseminado por todo o mundo, criando um circuito peculiar de artistas profissionais e amadores, professores e estudantes, eventos e produtos, livros, seminários e pesquisas teóricas, e muitos artistas pensam sua prática partindo desses pontos de vista. Inclusive os próprios artistas espanhóis se embrenham nesse percurso do uso do flamenco como suporte para seu discurso poético para além da repetição da tradição.
Assim, uma das propostas que construí para investigar essas possibilidades de contaminação foi o Isso não é flamenco, convidando artistas de outras áreas que se interessavam em contaminar e serem contaminados. Esses artistas eram todos próximos à mim, que já haviam demonstrado interesse em relacionar seus processos criativos ao flamenco.
Participaram do projeto o Coletivo Peixaria, grupo de artistas ilustradores, Ignez Capovilla, artista visual, Grupo Z de Teatro e André Arçari, artista multimídia. Cada um com um interesse particular para desenvolver em nossos encontros, que eram simultâneos e aconteceram de agosto à novembro de 2012, seguindo uma demanda cronológica do edital que patrocinou o projeto (o prazo para realização de todos os pontos que ele propunha era até 31 de novembro).
As maneiras de acesso do público ao desenvolvimento e resultados desses encontros foram através de uma fanpage[3] na rede social Facebook, um blog[4] e três eventos, que denominei “saraus”, que aconteceram ao longo de novembro em três espaços culturais diferentes, na sede do grupo Repertório (atual Casa Má Companhia) no centro da cidade, no estúdio de flamenco Alma Andaluza em Jardim da Penha, e no Jardim Secreto na Praia do Canto.
Cada grupo ou artista envolvido desenvolveu diferentes propostas durante o projeto. Algumas foram experimentadas superficialmente, outras descartadas e as experimentadas mais a fundo foram aquelas levadas aos saraus.
Eu já havia trabalhado com o Coletivo Peixaria em 2011 no Flamenco Sketches, evento proposto por eles no qual eu e mais um bailarino dançávamos flamenco enquanto alguns ilustradores faziam registros rápidos de nossa atuação. Partimos daí para a o Isso não é flamenco e os desenhistas passaram a frequentar os ensaios da cia Alma Andaluza, grupo especializado em dança flamenca do qual sou integrante, para aproximarem esse contato com o universo dessa dança. No primeiro sarau foi apresentada uma pequena exposição dos rascunhos resultantes desses encontros, já no segundo as bailarinas da Alma Andaluza se apresentaram enquanto os integrantes do coletivo pintavam painéis aos olhos dos espectadores do evento. Essa mesma ação foi repetida no terceiro sarau, que também conteve uma exposição de desenhos finalizados dos artistas, resultado de todo esse período em contato com a linguagem do flamenco.



A primeira proposta que surgiu entre eu e a Ignez Capovilla foi a de partir da música pois, apesar dela ter a pesquisa baseada na fotografia, toca instrumentos e tem uma relação muito forte com a música. Passamos dias em sala escutando flamenco, estudando suas bases rítmicas e pensando quais músicas de bandas que nós gostamos poderiam ser substrato para uma possível performance que conteria uma bailaora[5] dançando ao som de uma banda de rock. As nossas investidas nesse campo não nos satisfizeram e por isso não levamos essa ideia à frente. No meio desse percurso, em uma conversa virtual sobre o projeto com um amigo performer, o Túlio Rosa, veio a sugestão de dançar flamenco debaixo da água. A fotografia e o vídeo resolveriam de alguma maneira a disseminação dessa ação, e assim a Ignez incorporou essa proposta como uma nova possibilidade. A visão de estar dançando debaixo da água me trazia a ideia de silêncio, termo que também é usado para denominar uma parte do baile tradicional por Alegrías[6], assim denominamos o vídeo de “Silêncio de Alegrias”. O vídeo era projetado em looping nos espaços que receberam os saraus e a cada evento ele era remodelado, ganhando novas edições e trilhas. Uma das trilhas foi um silêncio de Alegrías composto pelo guitarrista flamenco Roberto Monteiro para o vídeo.




Os encontros com o Grupo Z de Teatro não tinham propostas definidas à princípio. Pela minha relação com o Grupo, com o qual trabalho há cerca de seis anos, já sabia que as experimentações seguiriam a metodologia de investigação adotada pelo Z, uma dramaturgia que vem do texto e do trabalho corporal. Pensávamos no começo em utilizar poemas do Federico Garcia Lorca, poeta modernista espanhol que tinha uma produção vinculada ao flamenco. Depois o Fernando Marques, diretor do grupo, sugeriu que partíssemos de textos dramatúrgicos e a sugestão primeira foi a de usarmos trechos do Gota d’água do Chico Buarque e Paulo Pontes, pois segundo ele, a personagem principal, Joana, tinha características que ele considerava pertinentes ao flamenco como a intensidade e a passionalidade, além da cadência rítmica do texto que poderia jogar bem em cena.



A partir daí fomos para a sala experimentar 3 cenas. A primeira era um diálogo em que Joana, após ter sido abandonada por seu marido Jazão, o mal dizia para as vizinhas. Eu interpretava Joana com o corpo, através de passos e percussões corporais e Alexsandra Bertoli, outra integrante o Grupo Z, se utilizava da voz e de um corpo expressivo mais vinculado à linguagem teatral. A segunda cena era um embate entre Joana e Jasão, onde eu como a personagem feminina ditava o texto apenas com o corpo, seguindo uma sequência com um crescimento de intensidade que se aproximava da estrutura de um baile tradicional flamenco e o ator Daniel Boone como o personagem masculino dizia as falas dele e criava essa comunicação com a ex-mulher. Na terceira cena Joana fazia um feitiço para ter seu marido de volta, e com isso foi feito um jogo de vozes entre todos os integrantes do grupo, Fernando, Daniel, Alexsandra e Carla van den Bergen enquanto eu fazia uma Joana ganhando forças até um rompante de energia que terminava com um sonoro grito de “sarava” coletivo dos intérpretes. A cada sarau uma cena era acrescida à nossa performance.



Durante os encontros com o Z experimentamos levar vários outros textos para apontar outros interesses nesse encontro. Tínhamos vontade de, por exemplo, falar das mãos, o que para isso reuniríamos a gravura “Las manos cortadas” de Lorca, a passagem sobre as mãos ensanguentadas que nunca se limpavam de Lady Macbeth de Shakespeare, e as movimentações em arabescos da dança flamenca. Tais ideias foram abandonadas pois escolhemos apresentar uma sequência de experimentações a partir de um mesmo texto.
A participação do André Arçari foi um pouco mais difusa, tanto por não termos nenhuma proposta inicial para trabalhar, quanto por ele ter se interessado muito pelos procedimentos experimentados pelos outros artistas. André fez uma série de fotografias durante os ensaios do Peixaria com a Alma Andaluza cujo foco eram as cores borradas dos figurinos em movimento, produziu uma série de vídeos chamado Split-series, nos quais se apropriava e unia lado a lado cenas de filmes do cineasta Carlos Saura[7], criando diálogos entre cenas distintas, e ao fim criou um livro de artista, cujas folhas são pranchetas nas quais estão algumas das impressões dele sobre esse encontro com o flamenco, em forma de textos e imagens.




A experiência do projeto funcionou como laboratório para materializar questões e propostas vividas por mim e pelos artistas convidados. Vejo que o desenvolvimento de meu trabalho acerca dos questionamentos que me movem como pesquisadora na área da dança flamenca partem agora de um outro ponto de vista mais amadurecido por esse encontro estético com os desdobramentos e com o público. As vivências contribuíram para o crescimento de meu arsenal criativo, e me alimentaram tanto na continuidade das pesquisas híbridas, quanto na prática diária da técnica e criação da dança flamenca tradicional.
Creio que meu olhar estrangeiro para o flamenco, assim como o de meus colegas participantes do projeto, nos levou a experimentar características vistas como icônicas do flamenco, como as fortes expressões, movimentos vigorosos, figurinos e cores. Mas para mim isso era um ponto importante de ser tocado pois, muitas vezes, como praticante do flamenco a relação de cópia e repetição que se institui passa fortemente por esses clichês.
Depois da experiência do Isso não é flamenco outras vontades nasceram em mim e de alguns dos outros artistas participantes, possivelmente serão ponto de partida para próximas investidas que darão continuidade ao projeto.


[1] Artista pesquisadora, graduada em Artes plásticas pela Universidade Federal do Espírito Santo.
[2] Tradução para inglês: This is not flamenco.
[3] www.facebook.com/issonaoeflamenco
[4] www.issonaoeflamenco.blogspot.com
[5] Termo designado para as bailarinas que dançam flamenco.
[6] Ritmo tradicional do flamenco, que faz parte da família rítmica das Cantiñas.
[7] Carlos Saura: cineasta espanhol cuja filmografia tem como tema recorrente a cultura flamenca.

3.11.13

De volta um ano depois.

Já se passou um ano desde que o Isso não é flamenco nasceu.
Vim dar uma olhada no blog e senti que posso publicar muito mais coisas que aconteceram relativas ao processo daquela primeira etapa. Falo de etapas porque tenho dado continuidade à pesquisa e vou retomar essa página para poder registrá-la.
Essa semana apresento um relato de experiência sobre o projeto no Colartes 2013 - IV Colóquio de arte e pesquisa do PPGA-Ufes e revisitando o material me vieram essas vontades.
Deixo publicado aqui o primeiro release que mandei pra Flávia e pro André, falando sobre o INEF, para a resenha que escreveram no Caderno Pensar.
(Agora o projeto segue sem patrocinio!)

O projeto Isso não é Flamenco surgiu da vontade de usar o flamenco como linguagem, para além da tradição. Como a minha formação é muito diversa (ballet clássico, jazz, artes plásticas, fotografia, dança teatro, e claro, flamenco) faz sentido o meu interesse ir na direção de misturar as coisas, pensar como elas podem alimentar umas as outras criando outras composições poéticas.

Esse ano, após 10 anos estudando o flamenco aqui no Brasil, passei 3 meses na Espanha numa "imersão flamenca". Além de aprender muito, o que pude perceber é que essa arte, que se baseia na música, no baile e na poesia, é vivida naquele país (principalmente na Andalucia). As pessoas (artistas ou não) tem uma relação orgânica com o flamenco, ele está inserido no contexto delas e faz parte do acervo cultural comum.
Isso me fez pensar em qual é o meu próprio contexto dentro do flamenco. De que formas eu, uma estrangeira a essa manifestação (que também lá na Espanha e em outros lugares do mundo já partiu para a experimentação, formatação para teatro, etc) me relaciono com isso para além da cópia de algo.

Os artistas com quem estou trabalhando nesse projeto são todos amigos que antes já tinham manifestado o seu interesse pelo flamenco, apesar de não saberem "nada" sobre ele. O que estamos fazendo é uma troca: o que nossos conhecimentos podem fazer juntos?
A partir disso, eu e os artistas envolvidos temos conversado sobre flamenco e levantado propostas para criação de cenas, imagens, sons, vídeos, textos e tudo mais o que tivermos vontade de experimentar e produzir.
Os processos, imagens e conversas estão sendo publicados no blog www.issonaoeflamenco.wordpress.com , e no final do processo serão realizados 3 saraus para apresentação pública dos processos e resultados.

Esse projeto está sendo realizado com recursos do Funcultura, através do edital 006/2012 (Valorização da diversidade cultural capixaba) da Secult ES.

Artistas participantes: Grupo Z de Teatro, Coletivo Peixaria, Ignez Capovilla
Colaboradores: André Arçari, Túlio Rosa

29.11.12

Entrevista Tardes Infinitas

Quem perdeu a entrevista de hoje, no programa Tardes Infinitas da Rádio Universitária, clica no link  aí em baixo pra ouvir e ainda ler o texto do Gabriel Ramos sobre o projeto.

Clica aí: Isso não é o fim

3º Sarau

Amanhã acontece o terceiro e último sarau do Isso não é flamenco, às 20h no Jardim Secreto.
O Jardim fica na casa rosa, localizada na rua Moacir Avidos, 47, na Praia do Canto.
A entrada é franca.
Espero vocês lá!

18.11.12

Artigo no Caderno Pensar (A Gazeta)

Saiu nesse sábado um artigo no Caderno Pensar de A Gazeta sobre o Isso não é flamenco, escrito por Flávia Dalla Bernardina e André Arçari.

Pra quem não leu, aí vai:

Clique na imagem para amplia-la

2º Sarau

Obrigada a todos que estiveram presentes no segundo sarau do Isso não é flamenco, que aconteceu dia 15 de novembro na sede da Alma Andaluza cia de Danza.
Na ocasião o Coletivo Peixaria fez uma performance de pintura ao vivo com as bailarinas da cia Alma Andaluza, o Grupo Z apresentou duas cenas (uma já apresentada no sarau anterior e outra nova) e de novo rolaram as projeções dos trabalhos da Ignez Capovilla e do André Arçari, dessa vez em nova etapa do processo.

Ação do Coletivo Peixaria + Alma Andaluza

Cena do Grupo Z de Teatro


Veja mais fotos do Coletivo Peixaria aqui - http://www.facebook.com/media/set/?set=a.388810974532301.94175.207722102641190&type=1

14.11.12

2º Sarau

Acontece amanhã o segundo sarau do Isso não é flamenco com mais desenhos do Coletivo Peixaria, cenas com Grupo Z e vídeos da Ignez Capovilla e André Arçari.

Informações
2º Sarau Isso não é flamenco 

Quando: 15 de novembro, às 20h
Onde: Sede da Alma Andaluza cia de danza - Av. Saturnino Rangel Mauro, 999. Jardim da Penha, Vitória, ES.
Entrada franca
contato@issonaoeflamenco.com.br

1º Sarau

Dia 1º de novembro aconteceu o 1º sarau do Isso não é flamenco na sede da Repertório Artes Cênicas e Cia.


 

Cena com Grupo Z de Teatro

Exposição do Coletivo Peixaria

Projeção dos Vídeos de Ignez Capovilla e André Arçari

30.10.12

1º Sarau

Nesta quinta-feira, dia 1º de novembro, acontecerá o primeiro sarau do projeto Isso não é flamenco. A partir das 20h os trabalhos realizados com os artistas participantes poderão ser vistos na sede da cia teatral Repertório, no centro de Vitória.
A idéia é apresentar os trabalhos ainda em processo e promover um bate-papo sobre as propostas dos artistas convidados.
Ainda nesse mês ocorrerão mais duas apresentações, nos dias 15 e 30 de novembro, na sede da Alma Andaluza e no Jardim Secreto respectivamente.
A entrada é franca!


Informações
Sarau Isso não é flamenco 
Quando: 1º de novembro, às 20h
Onde: Sede da Repertório - Rua Pof. Baltazar, 152. (Casarão vermelho ao lado da Catedral) Centro, Vitória, ES.
Entrada franca
contato@issonaoeflamenco.com.br

29.10.12

Impressões da Ignez

Texto da Ignez Capovilla sobre nosso trabalho http://napaisagem.wordpress.com/2012/10/28/respiro/

Outras colaborações - André Arçari

Conheci o André fazendo um curso de arte contemporânea ano passado. Desde então trocamos muitas idéias sobre o assunto e compartilhamos nosso trabalhos, pedimos opiniões um ao outro. Esse ano ele foi me ver dançar no espetáculo Essência Flamenca da Alma Andaluza (grupo de dança flamenca do qual sou integrante). A resposta dele pra mim foi de que não conseguia ficar parado na cadeira e que tinha ficado com muita vontade de aprender a dançar também.
Quando percebi esse encantamento e interesse dele pelo flamenco pensei logo em convidá-lo a ser colaborador do Isso não é flamenco, com algum trabalho próprio ou compartilhado.
Alguns dos trabalhos que já vi do André partem de textos, impressões sobre as coisas que o cercam e sobre experiências vividas, instruções de ações e propostas meditativas. Outros são recortes de vídeos e filmes de outros artistas, onde ele se apropria e seleciona trechos, frames e fragmentos da imagem para formar outras composições.
Sugeri que ele visse os filmes do Carlos Saura, pensando na captação desses recortes selecionados para fazer uma versão apenas de filmes de flamenco.
O primeiro foi esse que está aí embaixo

Split-Screen: Sem Título #1 (Flamenco | Tango)

Vídeo Peixaria

Registro feito pelo Coletivo Peixaria do último ensaio aberto com a Alma Andaluza Cia de Danza


22.10.12

Debaixo d'água tudo era mais bonito

Eu e a Ignez estamos editando o Silêncio de Alegría, que ganhou uma trilha incrível composta pelo guitarrista Roberto Monteiro (um silêncio de alegrias, claro), acompanhado pela flautista Letícia Malvares, dois amigos meus do Rio de Janeiro que se dedicam a estudar e tocar flamenco.

Capturas de tela do Silêncio de Alegrias

14.10.12

Encontros com o Z

Joanas de Gota d'água

fotos por Daniel Boone















Túlio, debaixo d'água e o silêncio

O Túlio é uma amigo com quem gosto muito de conversar sobre criação. Ele é bailarino/ator/performer, fez graduação em dança e mora no sul.
Perguntei pra ele se queria fazer alguma proposta para o projeto e a resposta foi mais ou menos assim:

Tive uma ideia, mas é uma loucura. Só vou jogar para não ficar guardada, mas é meio surreal de produzir.
Você já dançou flamenco submersa? Me veio essa imagem, você dançando flamenco completamente submersa. Ou parcialmente.
O atrito da água cortando a força dos movimentos e oferecendo resistência constante e ao mesmo tempo, distorcendo a imagem pela ondulação. É doido, mas eu gosto disso.

Falei com o Túlio que fazer isso como vídeo era possível, e que essa idéia me fazia lembrar de silêncio. E que "silêncio" é o nome de uma parte da estrutura tradicional dos bailes por Alegrías (um dos palos  flamencos).
Dessa conversa comecei a lembrar de outras conversas com a Ignez sobre debaixo d'água e sobre o silêncio. Sobre as músicas do Arnaldo Antunes que têm esses nomes, sobre o interesse dela por fotografias submersas.

A partir disso a idéia é fazer um vídeo, debaixo d'água, onde vou dançar um silêncio de Alegrías. Agora estamos em fase de pre-produção e experimentação (risos), um monte de dúvidas e algumas idéias objetivas.

Mas Túlio, quando você estiver aqui no verão, a gente vai fazer outro dirigido por você.

4.10.12

Ignez Capovilla

A Ignez é uma artista que usa principalmente a fotografia como suporte. Mas ela também tem uma relação muito intensa com a música, toca e pensa muitas vezes a imagem relacionada ao som.

Quando convidei ela pro projeto pensei muito nisso, e na possibilidade de compartilharmos sonoridades e músicas da nossa bagagem.

Temos conversado sobre ritmos do flamenco, tocado cajon, ela trás outras músicas e fazemos um pouco de improvisação. Ainda não sabemos direito o que vai acontecer. Temos pensado muito em vídeo, projeções, e até em uma banda completa.





nós e algumas coisas que temos escutado


3.10.12

Ensaio aberto com Peixaria

Ensaio aberto realizado no dia 29 de setembro com o Coletivo Peixaria e as bailarinas da Alma Andaluza cia de Danza





Um muito obrigada às meninas que vieram dançar: Luciana, Thais, Angela e Andreia

Coletivo Peixaria

A proposta com o Coletivo Peixaria partiu de um trabalho que fizemos ano passado, o Flamenco Sketches.

Na ocasião 11 ilustradores integrantes do coletivo assisitiram à performance minha e do Luciano Rios dançando flamenco e, claro, desenharam suas impressões do que foi apresentado ali.

Dentro do Isso não é Flamenco a idéia é nos encontrarmos mais vezes, durante ensaios e aulas para que os artistas possam ter mais intimidade com os movimentos, expressões e linhas corporais do flamenco, além de poderem observar diferentes bailarinas em ação. Serão feitos também alguns ensaios especialmente para o Coletivo, onde os bailarinos estarão de figurinos, posarão e se movimentarão de acordo com a necessidade dos ilustradores.

Provavelmente vamos fazer uma exposição dos desenhos e uma ação de desenho ao vivo nos dias de sarau.

Vídeo Z

Isso não é Flamenco from ignez on Vimeo.

encontro com o Grupo Z, por Ignez Capovilla

2.10.12

Grupo Z de Teatro

O Grupo Z era o único participante para o qual eu não tinha proposta. Trabalho com eles há mais ou menos 6 anos e nunca tínhamos de fato pensado em trabalhos que interagissem o teatro (ou a dança teatro) com o flamenco. Claro que o flamenco esteve ali presente em algumas coisas, e a vontade de misturar mais também.

Já que o processo de criação do grupo geralmente parte do texto, a primeira coisa que me veio à cabeça foi levar Lorca além de autores brasileiros que escreveram suas impressões sobre o flamenco, como a Clarice Lispector e o João Cabral de Melo Neto.

O Fernando, diretor do Grupo Z, chegou no primeiro encontro com outra proposta: trechos do Gota d'água do Chico Buarque. Sugeriu experimentarmos 3 cenas, partindo de Joana, personagem principal da peça.

Para ele Joana reúne características que se reconhecem no flamenco: força, passionalidade e algo de explosivo, quase violento. A partir daí experimentamos uma cena em que a mesma personagem Joana é encarnada pela atriz (Ale Bertoli) e pela bailarina (no caso, eu) ao mesmo tempo, outra onde acontece uma conversa entre Jasão (interpretado pelo Boone) e Joana (essa respondendo apenas com movimentos e sons que surgem do flamenco), e por último o coro de lavadeiras contando qual era o estado de Joana após ser abandonada por Jasão ao mesmo tempo em que eu mostraria essa condição dela pelo movimento.

A primeira cena foi a que mais colou e trabalhando nela a Carla (também diretora do grupo, bailarina e coreógrafa) estruturou uma organização dos movimentos e sonoridades. Provavelmente essa será uma das experimentações que levaremos pro sarau.


registros por Ignez Capovilla

9.9.12

Começando

A princípio o projeto propunha a convivência de um mês com cada grupo, e ao final desse período um sarau pra cada convidado.

A falta de tempo, a necessidade de mais encontros e o pensamento de que todos os trabalhos juntos no sarau traçariam um panorama mais interessante para nós, artistas participantes do projeto e para os espectadores, fez com que os planos mudassem. Agora os encontros com os grupos acontecem ao mesmo tempo até novembro, quando faremos os saraus (intinerantes!).

Nas próximas publicações vou falar um pouco do que está sendo feito com cada grupo e a agenda dos encontros e apresentações.

O convite para os interessados em dialogar continua aberto!

Até mais!

8.9.12

O que é isso?

Isso não é Flamenco.

Esse é um projeto de pesquisa experimental a fim de unir linguagens e descobrir possibilidades de diálogos entre o flamenco e o desenho, o teatro e a fotografia.

Sou uma bailarina especializada em dança flamenca e nesse projeto convido o Coletivo Peixaria, o Grupo Z de Teatro e a Ignez Capovilla para pensarmos em possibilidades na interação entre as linguagens que pesquisamos. No final de cada processo será feito um sarau onde apresentaremos os resultados obtidos nesse tempo de convivência.

Aos que quiserem dialogar mandem e-mail, sugestões e marcamos um encontro para trabalhar. Novas propostas serão muito bem-vindas!

Flamenco + alguma coisa, não sei onde vamos chegar. Mas isso não importa. O que importa aqui é a troca de informações e a experimentação.

 

 

Isso não é Flamenco é um projeto realizado com recursos do Funcultura pelo edital 006/2012 - Valorização da diversidade cultural capixaba da Secult ES.